Eu conheci a Umbanda e desenvolvi minha mediunidade num ambiente comum para a grande maioria da religião. Um ambiente de fé, amor e dedicação, porém com uma dificuldade muito grande de perceber o mundo e sua dinâmica construção como algo que influi em todos nós, bem como na religião que é feito por indivíduos.
A Umbanda surge num período em que era comum a ideia de que os mais velhos sabem das coisas e que o jovem não deve contestar, pois isso num ambiente social era um desrespeito e num ambiente religioso é heresia.
Carregada de influencia católica e espírita esta cultura de certo modo impositivo era natural na religião e isso pioraria com as influências da cultura religiosa africana (candomblé) onde o neófito tem o direito e o dever de ouvir, não falar e obedecer.
Todos sabemos que a Umbanda surge de uma maneira “rebelde”, lembrando as palavras do Sr. Caboclo das 7 Encruzilhadas, manifestado em seu médium Zélio de Moraes, que ao ser questionado sobre a sua presença numa “mesa espírita” retruca “-Por que não podem nos visitar estes humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas importantes na Terra, também trazem importantes mensagens do além? Porque o não aos caboclos e pretos velhos? Acaso não foram eles também filhos do mesmo Deus?” e sentencia “-Amanhã, na casa onde meu aparelho mora, haverá uma mesa posta a toda e qualquer entidade que queira ou precise se manifestar, independente daquilo que haja sido em vida, todos serão ouvidos, nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos aqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas a nenhum diremos não, pois esta é a vontade do Pai.”
Diante esta passagem é inevitável lembrar de Jesus, que ao ser perseguido por pregar diferente dos líderes da sua época defendeu sua verdade até a morte.
Em todo o mundo e em épocas diversas temos histórias como estas que resumem o conflito natural entre gerações, costume, quebra de paradigmas e o processo transitório de renovação dos tempos ou de uma “verdade”
Esta introdução é necessária para percebermos que a Umbanda vive hoje e viverá muitas outras vezes algo natural neste plano físico. Estou falando deste período que já vem de uns 15 anos atrás em que a Umbanda, embora cronologicamente muito jovem, vive crises e confrontos como as religiões milenares…
Por conta dos costumes antigos expostos acima instituiu-se dentro da Umbanda uma confusa relação entre o jovem e o antigo, entre o mundo externo e o interior do terreiro, entre ser simples e simplório, daí por diante.
Quando Rubens Saraceni publicou seus primeiros livros ditados por um Preto Velho e um Ogum ocorreram dois grandes fenômenos, milhares de fiéis que o reconheceram como um importante revelador de questões racionais da espiritualidade Umbandista e também centenas de líderes enraivecidos, pois nesta época livros facilmente acessíveis minaria suas estruturas controladoras e manipuladoras das mentes e corações dos incautos fiéis.
Mais de duas décadas se passaram desde que Rubens iniciou sua missão literária que hoje em pleno século XXI os tempos são outros e a cada novo ano muito no mundo se transforma, não estamos mais na era da carroça, estamos na era da tecnologia de informação, da internet, das múltiplas conexões e o fim das distâncias.
Certamente Zélio de Moraes que com seus 17 anos funda uma religião, jamais podia imaginar que em tão pouco tempo, os tempos seriam outros.
É preciso que sejamos sensatos, razoáveis e conscientes. Toda tecnologia a nossa disposição serve para nos beneficiar, lembro sempre que tudo que ocorre aqui no plano físico em inovações, invenções e avanços naturalmente é inspirado pelo astral, de modo que não tem nada de errado aliar as diversas ferramentas de comunicação que temos para que se dissemine, expanda e popularize nossa fé e nossos saberes.
Ainda é comum encontrarmos sacerdotes de Umbanda que proíbem seus filhos de santo estudarem, lerem ou pesquisarem sobre a religião, usando do discurso do medo e ameaças das mais estapafúrdias. Entretanto é impossível, hoje pelo celular qualquer um digita Umbanda num buscador e será apresentado milhares de links para site e blogs com estudos diversos sobre a religião.
Digite Orixá e você não dará conta de tanta informação que surgirá… Portanto só se engana, se aprisiona ou se mantém na ignorância quem opta por isso. Ainda que existam sacerdotes manipuladores, só é manipulado quem se predispõem.
Quando Rubens Saraceni formatou seus estudos em cursos livres foi outra revolução, não pelo fato dos cursos, pois isso já era comum nas capitais, em especial em São Paulo, mas pela maneira arrebatadora como ocorreu, milhares de pessoas convergindo no mesmo lugar para escutar o que ele tinha a dizer, rapidamente ele preparou outras pessoas para continuarem este trabalho e hoje somos centenas de dirigentes instrutores da religião e é impossível mensurar o alcance de tudo isso, sabemos que são outros tempos e a Umbanda está recebendo um novo perfil de religiosos.
Este novo perfil é do indivíduo antenado, multimídia, despojado, polivalente e de certa maneira rebelde, pois tem força para confrontar com um padrão de mesmice e ocultação dos saberes para se conectar com uma maneira simples, livre e tecnológica de acessar e aprender sobre a religião.
Quando criamos o primeiro colégio virtual de Umbanda, muitos dos líderes despojados também estranharam e ficaram receosos, mas logo superou, pois é básico saber que estamos num mundo modernamente dinâmico.
Hoje a plataforma Umbanda EAD que é nossa referência em ensino online da religião, que vem inspirando outros arrojados empreendedores, agrega milhares de Umbandistas no Brasil e outros países. Todos conectados com o mesmo propósito, acessar conhecimentos sólidos, metodológico e global acerca de várias temáticas da religião num ambiente de ensino-aprendizagem onde todos colaboram para quem sabe mais ensinar quem sabe menos.
É um advento, estamos diante o futuro no presente, a educação no mundo vem tomando novas proporções de disseminação, não seria diferente no campo religioso.
O novo perfil Umbandista não aceita respostas curtas e tampouco omissões, não é admissível respostas clássicas do tipo “não está na hora de saber”, pois é claro que a hora certa de saber algo é no momento que surge a dúvida, o movimento de querer aprender, o interesse em saber.
Este novo perfil evita ambientes obscuros, carregado de um clima de mistério, onde o comportamento mediúnico foge do bom senso. Não os agradam líderes que não dialogam que não ensinam rotineiramente, que não orienta. Afugenta-se este novo perfil diante pontuações do tipo “seu guia sabe tudo, você não precisa saber nada”. Isso suspende a ideia de evolução, onde cada qual deve cuidar da sua e aprender é o alicerce para promover a evolução.
Este novo perfil Umbandista é o que vai acolher as novas gerações e garantir num futuro breve o crescimento massivo e ordenado da religião, pois se no passado foi vertiginoso o crescimento da Umbanda pela emoção, seu esvaziamento se deu pela falta de conhecimento.
Por fim, este novo perfil tem um controle melhor do ego e não se envaidece com parcas informações, pelo contrário, tem orgulho em perguntar, satisfação pelo constante aprendizado e por consequência prazer em ensinar. É disso que a educação vive em todas esferas.
Hoje sabemos que quem não ensina é porque não aprendeu, quem não responde é porque não sabe.
Vivemos um período de transição na Umbanda, de reconstrução, de maturidade e neste novo tempo que urge, não há espaço para charlatões, interesseiros e mercantilistas do medo.
O perfil do Umbandista no século XXI é exigente, disciplinado, comprometido, dedicado, multimídia, consciente, insubordinável e positivamente rebelde, não aceita nada “guéla abaixo”
Que todos nós de gerações diferentes que fazemos parte desta fé, possamos nos engajar nesta realidade.
Grande abraço, saravá!
Rodrigo Queiroz I www.umbandaead.com.br I www.ica.org.br
Ouça o podcast CONVERSA ENTRE ADEPTUS onde bato um papo sobre este tema no link: http://conversaentreadeptus.com/site/episodio-15-o-perfil-umbandista-do-seculo-xxi/
Amei encontrar vcs, precisavamos deste trabalho a distância p levar comhecimentos e estimular as pesquisas.