Reflexões acerca da mediunidade e sua real natureza
Por Rodrigo Queiroz
Artigo publicado no Jornal Umbanda Sagrada, Fevereiro 2011
Todo aquele que nasce num corpo sadio, traz consigo cinco sentidos sensoriais que chamamos de básicos: audição, visão, tato, olfato e paladar. É natural ao ser humano e muitas vezes não se dá tanta atenção sobre a complexidade que estes sensores apresentam, talvez porque estes são comuns a todos e são estimulados e vivenciados desde que nascemos.
A criança
Aos pais mais atentos, é possível perceber o processo de maturação destes sensores no indivíduo. A criança nasce com a visão muito turva que vai “clareando” ou “amadurecendo” num prazo de até seis meses, após este período é que a criança realmente enxerga o mundo a sua volta. O tato é mais sensível pela boca, por isso é que a criança até seus dois anos terá o hábito de levar tudo à boca, pois é a partir da sensibilidade oral que a criança percebe, diferencia e processa texturas, formatos, consistências, bem como o paladar.
O adulto
Bem, para nós já adultos, andar e correr é algo “automático”, não precisamos de esforços e cálculos, entretanto observe uma criança no inicio da aprendizagem, há medo, calcula-se bem um ou dois passos, é preciso ter algumas certezas de segurança, algo a se apegar para não cair, dar três ou quatro passos, por algum período é um desafio incrível e a sensação de satisfação e superação ao atingir o objetivo que normalmente é sair do braço da mãe e andar quatro passos aos braços do pai é impagável.
O assunto
Toda esta introdução é para que possamos refletir sobre a mediunidade como mais um sentido sensorial que todos nascem, reservando suas particularidades e especificidades, a mediunidade está para todos e é um sensor como os acima citados, porém este “sexto sentido” vem à luz do indivíduo mais tardiamente, comumente na adolescencia, sem regras, pode acontecer já na maturidade bem como em tenra infância.
Já superamos o período histórico em que a mediunidade fora tratada como histeria, loucura ou possessão demoníaca.
Quando a mediunidade se apresenta num meio familiar em que o ambiente é de espiritualistas, tudo será mais fácil, entretanto cabe algumas considerações em todas as circunstâncias.
Vemos a mediunidade ser tratada ao longo dos tempos como um “dom supremo” coisa de gente “super dotada espiritualmente”, fantástico, seres superiores e coisa do tipo, há também aqueles que tratam a mediunidade como uma castigo, uma penitência, um karma, uma dívida…
A fantasia…
Respeito a credulidade alheia, mas desculpe… Mediunidade não é nenhuma das opções acima, tampouco se trata de coisa de mutantes, X-men, super herói, nada disso. Todavia, justamente por estas proposições acerca da mediunidade é que quando ela desabrocha num ambiente sem estudo e condução coerente acaba por dar vazão à uma fértil criatividade ilusória perigosa para a vida social e espiritual do indivíduo. É assim que vemos “incorporações” do cavalo de Ogum relinchando no meio do terreiro, vemos o corcunda de notre dame na linha de exus, caboclo cego, preto velho paralítico e tantas outras aberrações comportamentais …
Mediunidade enfim…
Retomando a idéia da mediunidade como um sentido sensorial como os demais básicos, a mediunidade deve ser observada com seriedade e bom senso.
Desenvolver a mediunidade é um processo natural, importante e necessário à todos. Entenda o sentido de desenvolver a mediunidade como um processo de conhecimento, aceitação, exercício e maturação do sentido.
Ilustrando o conceito…
Sempre costumo comparar o seguinte: eu tenho minha audição em perfeito funcionamento, também tenho um paladar funcionando etc. Mas meu ouvido não é como a de um músico estudioso, treinado e disciplinado. Quando ouço uma música, simplesmente ouço o conjunto dos instrumento s que embalam minha audição, entretanto um músico percebe as notas musicais, os vários instrumentos e até pode indicar o que está ou não afinado ou no compasso ideal. Eu não sei tocar instrumento algum e portanto jamais, nesta condição, poderei escutar uma música e reproduzi-la em qualquer instrumento. Posso mudar isso, estudando música e instrumento, me dedicando, exercitando e praticando muito, daqui alguns anos poderei estar apto a isso, mas já que me coloquei como exemplo, neste caso me falta também talento (risos).
O que quero dizer é que audição todos temos, porém alguns exercitam mais este sentido, apuram a capacidade de ouvir e lidar com os sons.
Nem melhor, nem pior…
Por isso não existe mediunidade melhor ou pior, superior ou inferior. Existe sim a mediunidade no indivíduo, este pode ou não amadurecê-la, pode ou não entendê-la e pode ou não praticá-la conscientemente.
Tirar a mediunidade do foco da sobrenaturalidade, penso que é o principal caminho para iniciar um relacionamento maduro a este sentido que precisa de cuidados importantes. Faz parte do nosso organismo.
Exercite…
Se os músculos não forem exercitados, poderão atrofiar e gerar graves doenças e limitações ao corpo. Com a mediunidade também, se não for exercitada no mínimo se mantém estacionada.
Há quem diga “Faz trinta anos que sou médium”, no entanto fazem vinte anos que não pratico!?!
Trinta anos de mediunidade mal praticada, não valem cinco anos de uma mediunidade ativa, praticada com estudo e bom senso.
O tempo determina muita coisa na mediunidade, como o músculo, você não define um músculo indo à academia uma vez por mês por meia hora. Se não houver disciplina, rotina e cuidados, esqueça braços, peitorais e abdômem definidos. De modo que a vivência disciplinada e exercício rotineiro da mediunidade, permite que a cada dia de prática mediúnica este sentido se fortalece, amadurece, amplia e alinha. É com o tempo também que o médium vai criando estabilidade vibratória, confiança e autonomia mediúnica.
Afinal de contas…
A mediunidade é algo mais natural do que pensamos, são muitos os tipos de mediunidade, você não terá a mediunidade que quer, mas a que te pertence, então procure conhecê-la e faça dela o melhor uso possível.
Pense nisso:
Mediunidade não é angelical e nem maligna, o uso que você fará dela é que determinará sua utilidade!
Grande abraço!
Olá boa tarde..td bem?
Trabalhei em um terreiro por 5 anos a mãe de santo desse terreiro me impediu durante esses anos a conhecer outros lado da casa, como até hj ela faz no entanto, sempre procurei estudar sobre a minha religião sem que ela soubesse… E assim faço até hj porém cada dia aprendo e estou longe de saber tudo porque tem coisas que até nossos próprios guias acham o momento certo para que saibamos ou ñ.Ate hj procuro fontes consizas que me direciono ao profundo conhecimento sobre a Umbanda e assim qdo encontro faço um debate coerente sobre as fontes para que eu chegue em uma conclusão plausível..Mas acredito acima de tudo que os nossos guias espirituais nós trazem um conhecimento que nunca encontraremos em livros mas dentro de nós mesmos.Varias vezes me coloquei em xeque sobre o que entidade ou guia viesse me falar teria algum nexo e me colocando a estudar vejo que o lado científico deles se aplicam numa base relativamente simples e concreta… Por isso hj dificilmente minha razão abalaria minha fé … Porém o lado sentimental dono de duas caras pode sim na vida de qualquer pessoa abalar a fé.Acredito no Estudo x Crença e espero com isso me auxiliar e auxiliar meu próximo .
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RODRIGO, Adorei seu artigo, é esclarecedor, é simples e exato sem delongas…Não sou preocupado em dar passagem toda ves que toca um atabaque para um Orixá ou um Santo da Gira, Sou sensato com minhas limitações e creio que o sagrado no meu interior também preciso despertar…Um abraço Irmão, Muito AXÉ neste maravilhoso trabalho de envagelização Umbandista. Newton Santos
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Estou em desenvolvimento mediúnico e quanto mais leio e me envolvo com o mundo Umbanda, mais vejo o quanto ainda tenho que aprender e entender.
Gosto muito de seus pensamentos e colocações, muito atuais e esclarecedores. A Umbanda precisa de gente como você, que não só aceita tudo como regra, mais que questiona e busca novos sentidos para a espiritualidade.
Salve Rodrigo Queiroz.
gostei muito do que li, me vejo em alguns itens , realmente preciso de um exercicio, para um melhor entendimento, porque acho que não só o exercicio da mediunidade mas um alto conhecimento de mim mesmo, por esse motivo eu estou precisando de ajuda.
Olá boa noite gostei das explicações nesta matéria, realmente quanto mais exercitamos a mediunidade vamos afinando a relação médium entidade.
Axé
só não concordo em dizer que todos tem mediunidade, pois existem várias religiões, escolas espiritualistas e nunca utilizaram esse mecanismo. Acredito que uma pessoa nasce com mediunidade própia para umbanda, com afinidades carmicas. Outras para espiritismo.
Olá irmão, salve!
A idéia da mediunidade ser natural a todo indivíduo parte do pressuposto de que intuição (comum á todos) já é uma interação entre encarnado e espírito. Claro que mediunidade sistematicamente prática já muda o quadro.
Abraços
lucia concordo plenamente com vc o que falta pra nossa umbanda ter o seu lugar de merecimento é mais conscientização;humildade estudo profundo, de nossas raizes, ai sim naõ veremos mais as aberrações dentro dos terreiros, porque ta um horror entidade EU MESMO se passando por entidade muita luz e paz.
Rodrigo, excelente texto! Vou iniciar o curso de Desenvolvimento de mediunidade, porém de forma presencial. Seu texto foi muito esclarecedor e veio de encontro com o que busco. Conheci a Umbanda há 6 anos, mas somente de um ano para cá venho realmente estudando e entendendo o que é essa religião. Esse é o caminho que quero seguir. Obrigada por nos enriquecer com seus conhecimentos.
PARABÉNS AMIGO RODRIGO, POR ESTE ARTIGO TÃO ESCLARECEDOR, VAI TRANQUILZAR MUITAS PESSOAS, QUE AINDA NÃO COMPREENDEU ESTA FACULDADE TÃO NATURAL
Oxé irmão Rodrigo, Estou orientando meus irmãos de fé sobre a mediunidade utilizando artigos do jornal de Umbanda sagrada, este artigo também vai nos auxiliar muito.
Obrigada. Zulmira – SP
Rodrigo,
Entendo mediunidade como uma “ferramenta’, cabendo ao medium adestrar-se no uso da ferramenta, que é a mesma para todos, e está sempre pronta.
E aí e que entra o drama.É o chamado ANIMISMO, do qual eu, mesmo após muito tempo trabalhando, ainda não me libertei, acho que isso tem dificultado o contato com os guias.
Olá João, obrigado por participar!
“Ferramenta” cai na mesma questão de Sentido.
Já o Animismo é um assunto de maior complexidade. Foi sempre colocado de uma maneira perturbadora pelo Espiritismo e que numa reflexão mais apurada é um equívoco.
Precisamos separar animismo de mistificação e perceberemos que o animismo sempre existirá, mas com o tempo cada vez mais maduro e eficaz.
Abraços
Hoje mesmo estive conversando com umas amigos meus sobre mediunidade, pois ouvi alguns dizendo que era um dom “suprasupremo”. Eu disse segundo meu pseudoentendimento de que é apenas mais um sentido que todos possuem, e que pode-se escolher desenvolve-lo ou não. Adorei o texto. Não gosto de textos onde vemos tratar a mediunidade como algo de extrema complexidade cheio de dogmas e paradigmas, a tempo, digo que ao dizer isso não estou dizendo que é algo que se acentua e desenvolve de maneira banal as “tortas e direitas”. Não sei se fui compreendido.! Axé!
Obrigado irmão pelo comentário.
De fato Mediunidade na Umbanda ainda é um assunto a ser explorado e compreendido.
Abraços
Nossa! Eu não sabia que existem pseudo-comunicações de corcunda de notre dame, caboclo cego e preto velho paralítico, fiquei de queixo caído. Por essas e outras que é imprescindível o estudo. obrigado Irmão Rodrigo pela oportunidade de aprender com voce e a turma do Ica.
O estudo e o conhecimento, aliado a prática, nos deixam melhores servidores da caridade. É disto que precisamos!
adorei o artigo e concordo com o fato de que com a pratica, adquirimos o conhecimento. até mais.
Eu pertenço a Umbanda de 38 anos atrás,praticante, e acho fundamendal que os médiuns estudem e pratiquem,porque só assim é que se desenvolve e sempre temos o que aprender e praticar.Antes nós não
tinhamos acesso a informãções, hoje é fundamental e muito farta.
Obrigada nova geração de umbandista!
Lucia
Obrigado Lúcia, salve!